Conheça iniciativas que comprovam a ligação entre alimentação e partilha, seja dividindo alimento e conhecimento ou mobilizando a luta coletiva
Nunca se falou tanto em comida e também na falta dela. Ao mesmo tempo, quem tem acesso ao alimento nem sempre vai encontrá-lo em sua forma mais saudável, dadas às investidas agressivas da grande indústria, que vende misturas de pouco tempo de preparo e por preço reduzido. Isso sem falar na quantidade de agrotóxicos encontrados não só nos produtos in natura, mas na água que se bebe.
A opinião de quem luta para combater a fome, e pelo acesso a uma alimentação de qualidade e saudável para todos é unânime: é preciso mudar o sistema alimentar vigente.
“Idealmente não deveriam existir iniciativas como essas, porém há a necessidade urgente de ações contra a fome e a desigualdade, e também a oportunidade de inspirar a cocriação de um futuro onde as pessoas tenham acesso à comida”, diz Michael Oliveira, líder comunitário da Social Gastronomy.
De modo a driblar a insegurança alimentar e fortalecer cadeias produtivas mais justas, bem como seus atores sociais – incluindo povos originários e comunidades tradicionais –, organizações do terceiro setor, projetos sociais, coletivos, cooperativas e outros grupos vêm se empenhando para encontrar alternativas para a questão.
Gama selecionou uma série de iniciativas inspiradoras que trabalham o tema da alimentação e partilha, seja dividindo o pão, ao pé de letra, seja compartilhando conhecimentos, tecnologias e, claro, amor, para resolver a crise alimentar.
Favela Orgânica
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Criado nas comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, o projeto soma onze anos de história e tem por trás as mãos habilidosas e cheias de vontade de Regina Tchelly: “Ensinamos as pessoas a multiplicar a comida, a evitar o desperdício e a partilhar o alimento, resgatando saberes populares e a comida de verdade”.
Uma das propostas é ensinar receitas que possam melhorar a alimentação caseira, sem gastar muito ou quase nada. “Se a pessoa tem uma xícara de arroz, incentivo a botar a casca de banana verde, por exemplo, e fazer um risoto com sabor de peixe.”
Assim, o que iria para o lixo vira comida, ou ao menos pode servir para a composteira que vai alimentar a horta de casa – conhecimentos também partilhados nos cursos que a cozinheira e empreendedora social já ministrou em outros estados, e na França, Itália e Uruguai.
“Ensinamos as pessoas a consumir o necessário, a plantar e a fazer compostagem. É um trabalho educacional do ciclo do alimento”, ela diz, lembrando que também faz parte da partilha devolver à terra o que ela dá.
Compartilhar esses saberes com uma linguagem democrática e acessível é outro ponto fundamental para que esses aprendizados conceitos cheguem a ainda mais pessoas, como ela fala, além de incluir bondade e amor no modo de preparo.
Por Ana Mosquera | Fonte