“Nasci na cidade de Serraria, na Paraíba. Quando eu tinha 19 anos, surgiu a oportunidade de trabalhar como empregada doméstica no Rio de Janeiro. Na época, eu ganhava R$ 80 na minha cidade e aqui ganharia R$ 250. Vim sozinha e fui morar com minha irmã na comunidade Chapéu-Mangueira, que fica no Leme, zona sul do Rio de Janeiro. Trabalhava na casa da dona Tereza como doméstica e acompanhante.
Quando eu cheguei na cidade, fui a uma feira livre e fiquei chocada com o tanto de comida que era deixada de lado. Um feirante disse para mim que aquela xepa nem os porcos comiam. Sem me conformar com aquilo, passei a levar talos e outras coisas que poderiam ser jogadas fora para fazer chips e suflês na casa da patroa.
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Nem sei explicar como sei fazer receitas daquilo que as pessoas desperdiçam. Comecei a cozinhar aos 11 anos na casa dos meus pais. Sempre tinha uma mesa cheirosa e colorida e as visitas adoravam comer com a gente.
Na casa em que trabalhava fazia chips de folha de couve-flor e de beterraba, risoto de casca de melancia, pé de moleque com casca de banana, tudo de maneira intuitiva.
Em 2011 participei de um projeto da Agência Redes da Juventude de incentivo e apresentei o que seria o Favela Orgânica. Minha ideia era trabalhar todo o ciclo do alimento, desde a plantação até o uso de todas as partes, para não haver desperdício. Aí, nasceu o meu projeto para que as pessoas da favela fizessem hortas em qualquer espaço, nem que fosse em uma latinha.
O alimento é capaz de se multiplicar em muitas coisas. Meu projeto não ganhou, mas resolvi chamar mulheres da comunidade para aprenderem a cozinhar na minha casa e elas ficaram encantadas. O boca a boca foi me levando a ficar conhecida.
Hoje temos cinco projetos de combate ao desperdício na comunidade, passei a ser chamada para fazer palestras e virei youtuber. Tudo isso aconteceu porque sou um furacão que aproveita até o talo da vida.
Há quatro anos, consegui montar um lugar próprio para o projeto, na comunidade. Ao lado da minha casa, em um espaço alugado, tenho a cozinha e minha horta orgânica. Estou lutando pela multiplicação da comida e para ensinar que comer bem é possível com o que você tem dentro de casa.”
Regina Tchelly, 40 anos, cozinheira e empreendedora social, do Rio de Janeiro (RJ)
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